segunda-feira, 19 de julho de 2010

Chegou tarde. Olhou até a parede na qual se encontrava o relógio redondo com números romanos. IIII horas. Não IV, nem 4h. IIII e 1 minuto, pra ser mais exato. E 23 segundos. Era uma pêndula do antiquário da esquina. Bonita, mas velha. Bem velha, com raspas nos cantos, e de um castanho surrado. Mas bela. E fazia tum nas horas cheias. Frio. Esquecera as vidraças abertas. Assim escutava agora o vento assoviar. Parece gente, só que mais agudo. E bate na janela. E nos vidros. Soltos. Não, frouxos. Precisa arrumar. Também isto. Pega o vinil e coloca na vitrola. Também antiga. Não da lojinha da esquina, da outra. A valsa é tocante. Mistura de violino, piano e regência orquestral. Uma avant-gard. Suave. Doce. Como o vinho no cálice. Um vinho tinto, como agora suas brancas faces. Precisa mudar. Vira e se acomoda na escada. Sente o calor da madeira. O úmido. Tum. V horas. Pensa no sono. Ou no sonho. Bebe mais um gole. O líquido desce lentamente por sua garganta. Suspira. Escuta a melodia. Fecha os olhos e sente. Sente. O quê? A alma? Essa se esvairou por seus dedos. Foi? Como quem? Precisa esquecer. Rever? Reviver? Re-sofrer? Bebe. Sente o calor no pescoço. O vinho é tinto. Como o sangue. Que é quente. Também. E corre pelo pescoço. E desce pelo corpo. Como o líquido. Que ela toma pra esquecer. Ver? Ouvir. A melodia. Fina, macia. Que faz dueto com o vento. Frio, quente. Que bate na janela, e empurra as cortinas. Brancas. Como suas mãos. Mãos que escrevem pra esquecer. Outra vez.

Tum.

Nenhum comentário:

Postar um comentário