Sala abafada, cheia de sombras. Um cheiro de chá de maça no ar misturado com o odor das velharias. Mesa redonda, escura, com cascas de amendoim espalhadas por toda a superfície. A toalha enorme de renda cor bege estendida sobre o móvel caía até o chão que há muito não era encerado. Um piso parquet com retângulos ora marrons, ora de um amarelo queimado, já estava sem brilho. Contrastando com fosco do piso, pegadas de terra em formato de um scarpin tamanho trinta e seis seguiam até o tapete cinza de um veludo gasto. Em cima da mesinha de centro, de madeira restaurada, estavam espalhadas fotos antigas, amareladas, em um preto-e-branco gasto. Algumas ilustravam cenas de montanhas e castelos, outras estampavam cenas de amor em frente à Torre Eiffel. Muitos beijos apaixonados de um casal aparentemente livre. O abajur ainda estava aceso. Ao lado das fotografias, selos de lugares distantes como Alemanha, França, Suíça, Áustria e Itália. E uma carta aberta. As pegadas que chegaram até o sofá cor de rosa, que agora era salmão devido ao acúmulo da poeira e das manchas de café, seguiram até a porta escancarada, tosca, de maçaneta quebrada, que dava para o corredor de entrada do apartamento. A chave se encontrava caída ao chão, em cima do tapete de entrada que dizia: “Não perturbe”. Mesmo enfraquecidas, as pegadas ainda podiam ser vistas nos degraus daquela escada arcaica que descia ao térreo. Perto da portaria, uma echarpe de cetim indiano, cor de laranja, um tanto brilhosa, estava caída sobre a grama verde, recém molhada. Uma mistura de cedro, âmbar, e gardênia perfumava o ar. Marcas de pneus no asfalto. Um táxi bem à frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário