segunda-feira, 4 de maio de 2009

Paixão ilícita

A mulher andava rapidamente, como se estivesse fugindo de alguém. Seu rosto alvo contrastava com os olhos grandes e negros, e seus lábios rubros denunciavam o frio que fazia em plena primavera londrina. Seus passos aumentavam gradativamente. Usava uma blusa de seda preta combinada com a saia de crepe da mesma cor, que descia até seus joelhos, revelando a pele clara de sua panturrilha. Um escuro e comprido casaco de tweed protegia seus braços e seu peito do vento gélido que vinha contra si. Mesmo em velocidade, conseguia se equilibrar sobre aquela bota de cano longo e salto levemente grosso que usava em ocasiões singulares. Sem dúvida, essa era uma ocasião singular. Depois de andar por mais de dez minutos pelo parque, avistou aquele que procurava. Estava apoiado nas grades de ferro que cercavam o local. Como ele estava bonito. Usava um terno de cor grafite, e ela supôs que ele viera direto do trabalho. Parecia nervoso, estava roendo o pouco de unha que ainda lhe restava. Ela aproximou-se, agora em passos calmos, e sorriu. Ele a enlaçou em seus braços e beijou-lhe os lábios quentes, com demasiada ternura e amor. Ambos se mantiveram calados, sabiam que não era hora de falar. Ele sentiu seu perfume, uma mistura de âmbar, jasmim, cedro e sândalo. Ela, por sua vez, também sentiu aquele cheiro de homem que emanava de seu corpo, uma fragrância amadeirada com notas de gengibre. Adorava quando ele lhe abraçava desta maneira: sentia-se protegida dentro daqueles enormes e fortes braços; gostava do peso que as grandes mãos exerciam quando sobre suas costas. Quando ele perguntou-lhe: “Tu estás pronta?”, ela sorriu de forma maliciosa e alegre, numa mistura de medo e prazer. Desejava há muito essa emoção, e sabia que perto dele sempre estaria pronta. “Sim”, disse ela. E ambos sentiram a vermelhidão que brotava das maças de seus rostos.

Passaram pela grade e adentraram no jardim. Os olhos dos dois seguiram pelo seu redor, não apenas para observarem o movimento, como também para escolherem o local mais apropriado. Precisavam disfarçar a ansiedade, pois um dos guardas os olhava de esguelha, como se suspeitasse de algo. Talvez ele estivesse apenas impressionado com a beleza e elegância que emanavam daquela mulher vestida de preto. De qualquer forma era melhor esperar que os olhos do oficial encontrassem outro alguém para vigiar. Sentaram sobre um banco de madeira marrom, perto de um pequeno moinho, e frente àquela enorme construção feita de pedras. Ela disse que estava com saudades, que não conseguia ficar muito tempo distante dele. Ele respondeu com um beijo, demorado e forte, que exprimia a paixão que devotava àquela mulher tantas vezes por ele amada.

O ambiente era agora quieto; o guarda saíra e apenas se ouvia o barulho dos pássaros que voavam de galho em galho, pelas árvores altas e cheias de folhas que ali estavam. Sabiam que esse era o momento... A mão do homem passou levemente pela face daquela mulher, com leves carícias que desciam pelos seus ombros, costas, e busto. Ela segurou, por entre os dedos, o cabelo escuro daquele que cada vez mais lhe puxava contra si. O mundo parecia ter parado e ambos só escutavam a respiração ofegante, um do outro. Recostados sobre o banco, ele abriu o tweed com uma das mãos enquanto, com a outra, segurava o pescoço da amada. Ela, com suas forças dissipadas pelo deleite que cada vez mais aumentava dentro de si, segurava os ombros largos de seu amante. Houve um furor. As almas se possuíram.

Barulho. Alguém se aproximava. Gritos histéricos insultavam aquele amor que ali brotava. Era proibido fazer sexo no jardim do Castelo de Windsor.



*Esse conto teve que ser feito a partir de uma notícia. A que escolhi foi " Casal é pego fazendo sexo em frente ao Castelo de Windsor"

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