terça-feira, 29 de setembro de 2009

Ela cansou, se desatou, ela se ausentou. Comprou uma paixão na vitrina que não servia nem pra ilusão. Sentiu-se um cão. Decidiu fugir, mentir, cair. Saltou de uma nuvem e caiu na lama. Subiu pelas cores do arco-íris, mas via tudo em preto e branco. Esperou. Reacreditou. Caiu em si e sumiu. Tomou um trem, perdeu seu bem, chorou. Acordou e sonhou. Amarelou. Ela não sonha. Nunca sonhou. Mas crê que sonha. Sua vida é medonha. Seu medo é seu desejo. Ter desejo é o pecado. Seu pecado não experimentado. Ela cansou, ela casou. Ela se calou. Agora ela está bem. Zen. Sem.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Que saudaaade de postar aqui!!!
Estou tão cheia de coisas pra fazer que acabo não fazendo nada, inclusive não postando mais, muito menos escrevendo algo que preste! Não que isso seja de grande importância pro mundo, rs, mas queria produzir boas histórias, cheias de sentimentos, emoções, dúvidas, anseios, cheiros, cores, sabores.. É, estou sem inspiração MESMO! De qualquer forma pouparei a minha querida e única visitante desse blog (eu) de ler músicas românticas ou coisas melosas como sempre, rs!

Beijocas

quinta-feira, 6 de agosto de 2009


Estava agora estudando alemão (coisa que deveria fazer mais seguidamente) e encontrei um poema de um certo autor chamado Robert Gernhardt. Bem, não sei direito quem é o cara para explicar aqui, só que ele é um escritor alemão (isso tava implícito, eu sei, rs). Tentei traduzir o texto, e talvez tenha ficado tosquíssimo, mas postarei aqui. Caso alguém saiba traduzir de modo mais fiel...


" Ich habe ein grosses Gefühl für dich.

Wenn ich an dich denke,
gibt es mir einen Schlag.
Wenn ich dich höre,
gibt es mir einen Stoss.
Wenn ich dich sehe,
gibt es mir einen Stich:
Ich habe ein grosses Gefühl für dich.

Soll ich es dir vorbeinbringen,
oder willst du es abholen?"

Traduzindo...
"Eu tenho um grande sentimento por ti.

Quando eu penso em ti,
sinto uma pancada.
Quando eu te escuto,
Sinto um golpe.
Quando eu te vejo,
sinto uma pontada:
Eu tenho um grande sentimento por ti.

Devo levar adiante,
ou tu preferes vir buscar?"

sexta-feira, 24 de julho de 2009


If you, if you could return, don't let it burn, don't let it fade.

I'm sure I'm not being rude, but it's just your attitude,
It's tearing me apart, It's ruining everything.

I swore, I swore I would be true, and honey, so did you.
So why were you holding her hand? Is that the way we stand?
Were you lying all the time? Was it just a game to you?

But I'm in so deep. You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger, ah, ha, ha.
Do you have to let it linger? Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger?

Oh, I thought the world of you.
I thought nothing could go wrong,
But I was wrong. I was wrong.
If you, if you could get by, trying not to lie,
Things wouldn't be so confused and I wouldn't feel so used,
But you always really knew, I just wanna be with you.

But I'm in so deep. You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger, ah, ha, ha.
Do you have to let it linger? Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger?

And I'm in so deep. You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger, ah, ha, ha.
Do you have to let it linger? Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger?

You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger, ah, ha, ha.
Do you have to let it linger? Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Os versos que te fiz


Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.


Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !


Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !


Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esperança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!

Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!

Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias - bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!

Enganei-me!... - Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais!

Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!

És doutro agora, e pr'a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!

Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!

Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; - e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, - de compaixão.

Fragmentos de Ainda Uma vez Adeus, Gonçalves Dias

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Acabei de descobrir essa música. Na verdade ainda não escutei, mas só pela letra vale muitooo!

De todas as maneiras que há de amar
Nós já nos amamos
Com todas as palavras feitas pra sangrar
Já nos cortamos
Agora já passa da hora, tá lindo lá fora
Larga a minha mão, solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão

De todas as maneiras que há de amar
Já nos machucamos
Com todas as palavras feitas pra humilhar
Nos afagamos
Agora já passa da hora, tá lindo lá fora
Larga a minha mão, solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão


Chico Buarque de Hollanda (De Todas as Maneiras)

domingo, 21 de junho de 2009

Redemption Song...

Songs of Freedom!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Nada jamais me será prometido senão eu mesma, e este eu-mesma, não será nada, se eu nada tiver o que fazer de mim"

Simone de Beauvoir

"...Esta é você, na chuva.
Nunca pensou que fosse fazer algo assim.
Você nunca se viu como - não sei como descreveria - como uma dessas pessoas que gostam de olhar a lua ou que passam horas contemplando as ondas ou o pôr-do-sol. Deve saber que tipo de pessoas estou falando. Talvez não saiba.
Seja como for, você gosta de ficar assim: lutando contra o frio, sentindo a água penetrar na sua camisa e a sensação do chão ficando fofo debaixo dos seus pés e do cheiro. Do som dá água batendo nas folhas e todas as coisas que estão nos livros que você não leu.
Essa é você.
Quem teria imaginado?
Você."

Paris Je'taime

Vejam...

"O seu olhar lá fora,
O seu olhar no céu,
O seu olhar demora,
O seu olhar no meu,
O seu olhar, seu olhar melhora
Melhora o meu.

Onde a brasa mora e devora o breu
Como a chuva molha o que se escondeu.
O seu olhar, seu olhar melhora, melhora o meu.

O seu olhar agora, o seu olhar nasceu, o seu olhar me olha, o seu olhar é seu.
O seu olhar, seu olhar melhora, melhora o meu..."
Conheces a região do laranjal florido?
Ardem, na escura fronde, em brasa os pomos de ouro;
No céu azul perpassa a brisa num gemido...
A murta nem se move e nem palpita o louro...
Não a conheces tu?
Pois lá... bem longe, além,
Quisera ir-me contigo, ó meu querido bem!

Goethe.

sábado, 13 de junho de 2009

"Eu quero um frio que aqueça meu coração"

Out on the winding windy moors
We'd roll and fall in green
You had a temper, like my jealousy
Too hot, too greedy
How could you leave me
When I needed to possess you?
I hated you, I loved you too

Bad dreams in the night
You told me I was going to lose the fight
Leave behind my wuthering, wuthering
Wuthering Heights

Heathcliff, it's me, I'm Cathy, I've come home
I'm so cold, let me in your window
Heathcliff, it's me, I'm Cathy, I've come home
I'm so cold, let me in your window

Oh it gets dark, it gets lonely
On the other side from you
I pine a lot, I find the lot
Falls through without you
I'm coming back love, cruel Heathcliff
My one dream, my only master

Too long I roam in the night
I'm coming back to his side to put it right
I'm coming home to wuthering, wuthering
Wuthering Heights

Heathcliff, it's me, I'm Cathy, I've come home
I'm so cold, let me in your window
Heathcliff, it's me, I'm Cathy, I've come home
I'm so cold, let me in your window

Oh let me have it, let me grab your soul away
Oh let me have it, let me grab your soul away
You know it's me, Cathy

Heathcliff, it's me, Cathy come home
I'm so cold, let me in your window
Heathcliff, it's me, Cathy come home
I'm so cold, let me in your window
Heathcliff, it's me, Cathy come home
I'm so cold

quinta-feira, 4 de junho de 2009

domingo, 31 de maio de 2009

Ainda relembrando o filme Amelie Poulain,

" Os tempos são difíceis para os sonhadores"

Aquele filme para aquecer o coração..



Aquele filme para aquecer o coração..

http://www.youtube.com/watch?v=0LPxU7659D4



Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: aqui…além…

mais este e aquele, o outro e toda a gente..

Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!

Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém

durante a vida inteira é porque mente.
Há uma primavera em cada vida:

é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz foi prá cantar
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja minha noite uma alvorada,
que me saiba perder…prá me encontrar…

Florbela Espanca

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Quem foi que disse que mulher não gosta de futebol?

Quem foi que disse que mulher não gosta de futebol?

Sempre quando chega o mês de maio e as lojas estampam corações em suas vitrines, lembrando o dia dos namorados que está próximo, eu, como boa solteirona, perco meu tempo lendo bobagens do tipo: “100 motivos que fazem de uma mulher ser mais feliz quando solteira”, “Sou feliz, sou solteira”, e coisas do gênero. É nesses textos de auto-ajuda para encalhadas que sempre encontro a máxima: “Se você é solteira, não vai ter que perder seu tempo assistindo futebol, só para agradar seu namorado”. Então eu me pergunto: Quem foi que disse que mulher não gosta de futebol?

Tá, admito que algumas mulheres podem não gostar, mas alguns homens também não gostam. Cada dia mais os estádios ficam lotados de mulheres eufóricas cantando loucamente as músicas do time. E está errado quem pensa que mulher vai lá apenas para ver as pernas dos jogadores (é uma conseqüência, confesso, mas não o motivo principal).

Eu sou exemplo vivo disso. Amo futebol. Mais, sou louca por futebol. Ao contrário do meu irmão e do meu pai, que nunca vão ao estádio, eu sempre que posso estou lá , torcendo, cantando, gritando, falando palavrões feiíssimos, e me emocionando.

Foi o que aconteceu hoje. Fiquei nervosa durante todo dia à espera da noite. Pra variar, tudo começou a conspirar contra mim: fiquei presa no meu trabalho; o ônibus saiu logo que cheguei na parada; peguei outro ônibus, um errado, que me deixou umas sete quadras longe de casa; depois me atrasei (mais do que já estava) por causa do trânsito demorado. Estava muito estressada. Entrei no estádio.

Quando vi aquele mar de gente, animado, me contagiei. Minha boca se abriu num sorriso e os olhos começaram a brilhar, muito. Logo fui até o meio do povão, o lugar mais legal para (não)assistir o jogo. Comecei a cantar. O time entrou em campo.

Não demorou para que eu começasse a roer as unhas. Cantava e pulava um pouco, roía as unhas outro pouco, e assim foi indo, sucessivamente. Por causa do calor, também comecei a suar, o que fez com que eu roesse mais as unhas do que ficasse pulando. Cada minuto que passava me deixava mais angustiada, precisava que meu time marcasse um gol para acalmar meu ânimo, mas a bola nunca entrava na goleira.

Gol! Quase tive um treco. É engraçado que quando se está no meio de uma torcida e o time faz um gol, a gente abraça carinhosamente pessoas que nunca viu e nunca mais verá na vida. Foi isso que eu fiz, lógico. Gritei como se tivesse ganhado na loteria. Comecei a cantar mais forte, pular mais alto: danem-se meus pés. Dane-se o calor e meu cabelo grudento. Dane-se o cheiro horrível da fumaça dos sinalizadores. Só pensava em festa. Queria mais um gol.

Veio o segundo tempo, e com ele outro gol. Foi do adversário. Se continuasse assim, estávamos eliminados. Comecei a passar mal, sempre passo mal nesses jogos decisivos. Numa final eu cheguei a desmaiar, imagina o mico! Não conseguia chorar; não que eu não tivesse vontade, mas parecia que as lágrimas estavam trancadas. Sem unhas, comecei a roer a pelezinha ao redor da unha. Era difícil de respirar. Parei de cantar.

Enquanto as pessoas ao meu redor pulavam e cantavam loucamente para incentivar o time, eu, quase esmagada, fiquei parada segurando meu santinho (que levo no pescoço) e rezando. Não tinha jeito de fazer outro gol. Comecei a rezar mais forte, com mais fé, apertei o santinho contra os lábios e vez em quando fechada os olhos, nervosamente. Quase sem esperanças, fiquei pensando no que faria depois do jogo: não teria vontade de ir pra casa, no outro dia provavelmente não iria para a aula, também não queria trabalhar – podia inventar que peguei gripe, a voz já estava rouca...

Gol! Gol! Gol! Dessa vez eu não gritei, não esperneei nem fiz outro tipo de fiasco. Sentei na arquibancada enquanto os outros ao meu redor quase me pisavam, e comecei a chorar. Chorei, e com vontade. Choro de alegria, claro. Pensando bem esse foi um fiasco, mas eu nem me importei. Só pensava em como era bom ser torcedora, como era bom sentir essa emoção.

Acabou o jogo. Agora rindo, eu saí do estádio feliz. Não me importei quando meu amigo errou o caminho e me deixou quadras longe de onde moro. Não me importei em chegar tarde em casa sabendo que o outro dia teria aula pela manhã. Eu era a torcedora do melhor time do mundo; mundo por ele conquistado.

Semana que vem tem mais, e na outra também. E em quantos outros jogos eu irei e sairei assim, feliz. Eu e todos os outros torcedores, inclusive as torcedoras.

Sinceramente, aquela que diz que mulher não gosta de futebol, nunca deve ter ido a um estádio. Garanto que, depois que ela experimentar, nunca mais vai querer perder um joguinho sequer.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Paixão ilícita

A mulher andava rapidamente, como se estivesse fugindo de alguém. Seu rosto alvo contrastava com os olhos grandes e negros, e seus lábios rubros denunciavam o frio que fazia em plena primavera londrina. Seus passos aumentavam gradativamente. Usava uma blusa de seda preta combinada com a saia de crepe da mesma cor, que descia até seus joelhos, revelando a pele clara de sua panturrilha. Um escuro e comprido casaco de tweed protegia seus braços e seu peito do vento gélido que vinha contra si. Mesmo em velocidade, conseguia se equilibrar sobre aquela bota de cano longo e salto levemente grosso que usava em ocasiões singulares. Sem dúvida, essa era uma ocasião singular. Depois de andar por mais de dez minutos pelo parque, avistou aquele que procurava. Estava apoiado nas grades de ferro que cercavam o local. Como ele estava bonito. Usava um terno de cor grafite, e ela supôs que ele viera direto do trabalho. Parecia nervoso, estava roendo o pouco de unha que ainda lhe restava. Ela aproximou-se, agora em passos calmos, e sorriu. Ele a enlaçou em seus braços e beijou-lhe os lábios quentes, com demasiada ternura e amor. Ambos se mantiveram calados, sabiam que não era hora de falar. Ele sentiu seu perfume, uma mistura de âmbar, jasmim, cedro e sândalo. Ela, por sua vez, também sentiu aquele cheiro de homem que emanava de seu corpo, uma fragrância amadeirada com notas de gengibre. Adorava quando ele lhe abraçava desta maneira: sentia-se protegida dentro daqueles enormes e fortes braços; gostava do peso que as grandes mãos exerciam quando sobre suas costas. Quando ele perguntou-lhe: “Tu estás pronta?”, ela sorriu de forma maliciosa e alegre, numa mistura de medo e prazer. Desejava há muito essa emoção, e sabia que perto dele sempre estaria pronta. “Sim”, disse ela. E ambos sentiram a vermelhidão que brotava das maças de seus rostos.

Passaram pela grade e adentraram no jardim. Os olhos dos dois seguiram pelo seu redor, não apenas para observarem o movimento, como também para escolherem o local mais apropriado. Precisavam disfarçar a ansiedade, pois um dos guardas os olhava de esguelha, como se suspeitasse de algo. Talvez ele estivesse apenas impressionado com a beleza e elegância que emanavam daquela mulher vestida de preto. De qualquer forma era melhor esperar que os olhos do oficial encontrassem outro alguém para vigiar. Sentaram sobre um banco de madeira marrom, perto de um pequeno moinho, e frente àquela enorme construção feita de pedras. Ela disse que estava com saudades, que não conseguia ficar muito tempo distante dele. Ele respondeu com um beijo, demorado e forte, que exprimia a paixão que devotava àquela mulher tantas vezes por ele amada.

O ambiente era agora quieto; o guarda saíra e apenas se ouvia o barulho dos pássaros que voavam de galho em galho, pelas árvores altas e cheias de folhas que ali estavam. Sabiam que esse era o momento... A mão do homem passou levemente pela face daquela mulher, com leves carícias que desciam pelos seus ombros, costas, e busto. Ela segurou, por entre os dedos, o cabelo escuro daquele que cada vez mais lhe puxava contra si. O mundo parecia ter parado e ambos só escutavam a respiração ofegante, um do outro. Recostados sobre o banco, ele abriu o tweed com uma das mãos enquanto, com a outra, segurava o pescoço da amada. Ela, com suas forças dissipadas pelo deleite que cada vez mais aumentava dentro de si, segurava os ombros largos de seu amante. Houve um furor. As almas se possuíram.

Barulho. Alguém se aproximava. Gritos histéricos insultavam aquele amor que ali brotava. Era proibido fazer sexo no jardim do Castelo de Windsor.



*Esse conto teve que ser feito a partir de uma notícia. A que escolhi foi " Casal é pego fazendo sexo em frente ao Castelo de Windsor"

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Couleurs

Sala abafada, cheia de sombras. Um cheiro de chá de maça no ar misturado com o odor das velharias. Mesa redonda, escura, com cascas de amendoim espalhadas por toda a superfície. A toalha enorme de renda cor bege estendida sobre o móvel caía até o chão que há muito não era encerado. Um piso parquet com retângulos ora marrons, ora de um amarelo queimado, já estava sem brilho. Contrastando com fosco do piso, pegadas de terra em formato de um scarpin tamanho trinta e seis seguiam até o tapete cinza de um veludo gasto. Em cima da mesinha de centro, de madeira restaurada, estavam espalhadas fotos antigas, amareladas, em um preto-e-branco gasto. Algumas ilustravam cenas de montanhas e castelos, outras estampavam cenas de amor em frente à Torre Eiffel. Muitos beijos apaixonados de um casal aparentemente livre. O abajur ainda estava aceso. Ao lado das fotografias, selos de lugares distantes como Alemanha, França, Suíça, Áustria e Itália. E uma carta aberta. As pegadas que chegaram até o sofá cor de rosa, que agora era salmão devido ao acúmulo da poeira e das manchas de café, seguiram até a porta escancarada, tosca, de maçaneta quebrada, que dava para o corredor de entrada do apartamento. A chave se encontrava caída ao chão, em cima do tapete de entrada que dizia: “Não perturbe”. Mesmo enfraquecidas, as pegadas ainda podiam ser vistas nos degraus daquela escada arcaica que descia ao térreo. Perto da portaria, uma echarpe de cetim indiano, cor de laranja, um tanto brilhosa, estava caída sobre a grama verde, recém molhada. Uma mistura de cedro, âmbar, e gardênia perfumava o ar. Marcas de pneus no asfalto. Um táxi bem à frente.

sábado, 4 de abril de 2009

Vida Clandestina

Estava sentada naquele sofá que comprou no antiquário. Tinha achado bonito quando o viu em frente à loja, localizada numa ruela do centro da cidade. Aquele marrom escuro, de um couro visivelmente surrado, parecia acenar para ela. Seus amigos a criticaram: ‘Teus gostos estão cada vez mais esquisitos, nunca optas pela beleza’. ‘E o que é belo?’, pensou ela, que sabia muito bem que aquilo pouco lhe importava. Nunca foi de seguir moda, tampouco acreditava que o belo é algo que se possa revestir em formas ou estilos. O belo sempre lhe fora peculiar, sim. Vestia seu pulôver de lã, cor de vinho tinto, que comprara no inverno anterior, e por baixo usava uma camisa de gola alta, cor de cinza. Era uma noite fria, mas estava tão profundamente mergulhada em seus próprios pensamentos que até a veneziana aberta lhe era indiferente, e o vento que entrava pela janela não parecia lhe tocar. Sobre suas coxas estava aberto um volume antigo de Anna Karênina, um original russo de capa grossa, dum verde oliva escuro, com título dourado em caligrafia desenhada. Parara de súbito sua leitura, sentiu-se ofegante, o coração batendo forte. Nunca antes tinha se visto tão familiar em algum outro livro. Nunca antes soube exatamente o que sentia aquela personagem presa nas linhas de outra obra. Estava pensando em como sua vida se confundia com aquelas frases; como parecia com Anna Karênina, sempre atrás de uma felicidade que significava a renúncia de outros sentimentos. E viu como era medrosa. Ao contrário da personagem de Tolstoi, tinha receio de arriscar. Medo da opinião alheia? Medo dos outros? Não. Medo de si mesma. Medo de ser feliz. Estava em uma constante corrida em busca da felicidade, mas sempre ao chegar perto dela, recuava. Recuava como se a felicidade, ao invés de lhe sorrir, lhe virasse as costas. Sentiu-se profundamente triste. Lembrou do aceno que o marido lhe dera antes de ir para a guerra. Fora o último. Pensou em como fazia falta aquele homem que segurava sua cabeça contra o peito, afagando seus cabelos. Como era difícil não ter alguém que vivesse por si. Aproximou-se lentamente do cômodo onde estavam suas coisas; deixou o livro caído ao chão; pegou um cigarro e o acendeu. Pensou em como era uma mulher dramática, como eram suscetíveis seus sentimentos. Parou de pensar. Foi dormir.