sexta-feira, 22 de maio de 2009

Quem foi que disse que mulher não gosta de futebol?

Quem foi que disse que mulher não gosta de futebol?

Sempre quando chega o mês de maio e as lojas estampam corações em suas vitrines, lembrando o dia dos namorados que está próximo, eu, como boa solteirona, perco meu tempo lendo bobagens do tipo: “100 motivos que fazem de uma mulher ser mais feliz quando solteira”, “Sou feliz, sou solteira”, e coisas do gênero. É nesses textos de auto-ajuda para encalhadas que sempre encontro a máxima: “Se você é solteira, não vai ter que perder seu tempo assistindo futebol, só para agradar seu namorado”. Então eu me pergunto: Quem foi que disse que mulher não gosta de futebol?

Tá, admito que algumas mulheres podem não gostar, mas alguns homens também não gostam. Cada dia mais os estádios ficam lotados de mulheres eufóricas cantando loucamente as músicas do time. E está errado quem pensa que mulher vai lá apenas para ver as pernas dos jogadores (é uma conseqüência, confesso, mas não o motivo principal).

Eu sou exemplo vivo disso. Amo futebol. Mais, sou louca por futebol. Ao contrário do meu irmão e do meu pai, que nunca vão ao estádio, eu sempre que posso estou lá , torcendo, cantando, gritando, falando palavrões feiíssimos, e me emocionando.

Foi o que aconteceu hoje. Fiquei nervosa durante todo dia à espera da noite. Pra variar, tudo começou a conspirar contra mim: fiquei presa no meu trabalho; o ônibus saiu logo que cheguei na parada; peguei outro ônibus, um errado, que me deixou umas sete quadras longe de casa; depois me atrasei (mais do que já estava) por causa do trânsito demorado. Estava muito estressada. Entrei no estádio.

Quando vi aquele mar de gente, animado, me contagiei. Minha boca se abriu num sorriso e os olhos começaram a brilhar, muito. Logo fui até o meio do povão, o lugar mais legal para (não)assistir o jogo. Comecei a cantar. O time entrou em campo.

Não demorou para que eu começasse a roer as unhas. Cantava e pulava um pouco, roía as unhas outro pouco, e assim foi indo, sucessivamente. Por causa do calor, também comecei a suar, o que fez com que eu roesse mais as unhas do que ficasse pulando. Cada minuto que passava me deixava mais angustiada, precisava que meu time marcasse um gol para acalmar meu ânimo, mas a bola nunca entrava na goleira.

Gol! Quase tive um treco. É engraçado que quando se está no meio de uma torcida e o time faz um gol, a gente abraça carinhosamente pessoas que nunca viu e nunca mais verá na vida. Foi isso que eu fiz, lógico. Gritei como se tivesse ganhado na loteria. Comecei a cantar mais forte, pular mais alto: danem-se meus pés. Dane-se o calor e meu cabelo grudento. Dane-se o cheiro horrível da fumaça dos sinalizadores. Só pensava em festa. Queria mais um gol.

Veio o segundo tempo, e com ele outro gol. Foi do adversário. Se continuasse assim, estávamos eliminados. Comecei a passar mal, sempre passo mal nesses jogos decisivos. Numa final eu cheguei a desmaiar, imagina o mico! Não conseguia chorar; não que eu não tivesse vontade, mas parecia que as lágrimas estavam trancadas. Sem unhas, comecei a roer a pelezinha ao redor da unha. Era difícil de respirar. Parei de cantar.

Enquanto as pessoas ao meu redor pulavam e cantavam loucamente para incentivar o time, eu, quase esmagada, fiquei parada segurando meu santinho (que levo no pescoço) e rezando. Não tinha jeito de fazer outro gol. Comecei a rezar mais forte, com mais fé, apertei o santinho contra os lábios e vez em quando fechada os olhos, nervosamente. Quase sem esperanças, fiquei pensando no que faria depois do jogo: não teria vontade de ir pra casa, no outro dia provavelmente não iria para a aula, também não queria trabalhar – podia inventar que peguei gripe, a voz já estava rouca...

Gol! Gol! Gol! Dessa vez eu não gritei, não esperneei nem fiz outro tipo de fiasco. Sentei na arquibancada enquanto os outros ao meu redor quase me pisavam, e comecei a chorar. Chorei, e com vontade. Choro de alegria, claro. Pensando bem esse foi um fiasco, mas eu nem me importei. Só pensava em como era bom ser torcedora, como era bom sentir essa emoção.

Acabou o jogo. Agora rindo, eu saí do estádio feliz. Não me importei quando meu amigo errou o caminho e me deixou quadras longe de onde moro. Não me importei em chegar tarde em casa sabendo que o outro dia teria aula pela manhã. Eu era a torcedora do melhor time do mundo; mundo por ele conquistado.

Semana que vem tem mais, e na outra também. E em quantos outros jogos eu irei e sairei assim, feliz. Eu e todos os outros torcedores, inclusive as torcedoras.

Sinceramente, aquela que diz que mulher não gosta de futebol, nunca deve ter ido a um estádio. Garanto que, depois que ela experimentar, nunca mais vai querer perder um joguinho sequer.

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